segunda-feira, julho 10, 2006

SEBOS: do popular ao luxo

*(IMPRESSO)

Texto e Foto: INGRID GUERRA





Em frente ao hotel que serviu de última morada a um grande poeta; sob um ícone da cidade, numa movimentada esquina da capital; nas ruelas que formam o centro ou nos endereços virtuais da web. O domicílio nem sempre é relevante, o produto vendido por eles, sim. Guardadores de raridades ou simples redutos de “velharias” literárias, os sebos atraem não apenas pessoas que procuram livros fora de circulação e preços baixos, mas, entusiastas da leitura.
Para estes bibliófilos o valor de uma primeira edição é inestimável, embora as cifras reais sejam bastante significativas. Os três volumes de Ulysses, de James Joyce (em uma versão alemã de 1927), por exemplo, chegam a custar R$ 4 mil. E a Mensagem ao Congresso Nacional – apresentada pelo presidente da república por ocasião da abertura da sessão legislativa de 1951 – autografada por Getúlio Vargas, sai pela bagatela de R$ 3 mil.
Já aos demais mortais, sem condições de desembolsar tais quantias, há opções bem mais em conta. Com ofertas até 50% inferiores aos preços negociados em livrarias, os sebos conquistam consumidores de todas as idades e classes sociais: dos acadêmicos em busca de fontes científicas aos estudantes do ensino médio ou pré-vestibulandos que desejam adquirir livros didáticos ou exemplares da lista de leituras obrigatórias.
O livreiro Guilherme Matzenbacher, proprietário da Livraria Mosaico: novos & usados, declara que a demanda por exemplares dessa natureza é considerável: “Uma grande parcela das pessoas que entram no sebo solicitam material didático. E tão logo as listas de leituras para o vestibular são divulgadas começam as buscas. Até porque os professores que as elaboram dificilmente se preocupam em saber se a obra ainda esta sendo editada”.
A falta de reedições atrapalha não apenas os estudantes, mas também a enfermeira aposentada Beatriz Hettwer. “Tentei adquirir exemplares sobre comunismo e socialismo, sem nenhum sucesso, em diversas livrarias. Nem sob encomenda eu consegui. Algumas coisas, realmente, você só consegue em sebos”, declara ela que faz pesquisa para escrever seu primeiro livro.
Com o auxilio da tecnologia, no entanto, o garimpo de Hettwer pode ser menos desgastantes. Afinal, a comunidade sebista tem se empenhado em informatizar seus negócios, oferecendo sites com acervo completo em bancos de dados organizados e de fácil acesso, quando não o e-mail.
Na
Traça – sebo online da Livraria Ex Libris – o internauta pode consultar mais de 30 mil títulos, pesquisando por seções, autores, coleções etc, e ter a sua disposição fotos e descrições sobre o estado de preservação dos mesmos. Para a proprietária da Ex Libris, Carmem Menezes, a Internet é um facilitador: “O nosso cliente, não todos, mas uma grande quantidade, antes de vir a loja consulta o site para saber o que têm. Assim, tudo fica mais rápido, mais fácil do que de repente tu ir a um sebo, que tu vai ter que entrar e procurar sem saber se vai mesmo encontrar o que tu quer”.
E para os mais curiosos a traça oferece ainda exposições de revistas antigas e um blog no qual Carmem Menezes tem um contato mais informal com o público e pode discorrer a respeito do mercado e de sua rotina de alfarrabista.


* Matéria Publicada no Jornal da Manhã - um dos periódicos da Famecos - em Junho de 2006

PÂNICO QUANDO O TELEFONE TOCA

O simples som do aparelho é capaz de provocar arrepios de medo em pessoas com telefonofobia


*(IMPRESSO)


Texto e Foto: INGRID GUERRA






Trimmmm! O telefone toca. Do outro lado da linha alguém busca informação, deseja fazer um pedido ou apenas dizer olá. Enquanto ele espera ser atendido, reações físicas incomuns ocorrem aqui, no lado inverso. Pânico, calafrios, náuseas, falta de ar. Estes são alguns dos sintomas citados por membros da comunidade Eu odeio telefone, no site de relacionamentos Orkut.
Essa angústia pode refletir mais do que uma simples aversão ao som do aparelho criado por Alexander Graham Bell, no século XIX. Principalmente quando sensações desta natureza são percebidas, também, no momento em que deveria ser realizada uma ligação. Por vezes elas indicam o Transtorno de Ansiedade Social.
Conhecido, popularmente, como Fobia Social, se caracteriza pelo medo intenso de ser avaliado por outros e/ou ser humilhado em público. A ansiedade pode se manifestar com palpitações, vertigens e sudoreses, assim como ser circunscrita (ocorrer apenas em algumas situações) ou generalizada (em qualquer contexto social).
A Fobia Social é o terceiro transtorno psiquiátrico mais comum, sobretudo em áreas urbanas. Sua prevalência é em torno de 13%. Afeta homens e mulheres, em geral inicia na infância ou no começo da adolescência. Só nos Estados Unidos acredita-se que 15 milhões de indivíduos apresentem esta forma de inquietação. No Brasil não há dados específicos do quanto freqüente é a doença. Todavia, as estimativas são altas.
Uma breve busca no Orkut pode ser reveladora. Em uma comunidade denominada Eu não sei falar ao telefone, 12.110 pessoas estão cadastradas. Embora a alcunha não seja tão especifico quanto a Eu odeio telefone (8.893 membros), sua definição indica que seus integrantes possuem grandes chances de entrar para as estatísticas: "Seu coração bate de uma forma estranha quando toca o telefone? Você não atende o telefone quando está sozinho em casa? Você detesta ouvir "é pra você"? As pessoas vivem te enchendo porque você nunca liga para elas? Você simplesmente ODEIA falar ao telefone? Você se acha um anormal por causa disso?"
A psicóloga Luciane Benvegnú Piccoloto, membro do Centro de Psicoterapia Cognitivo-Comportamental, revela que existe uma tendência a se menosprezar os medos fóbicos: "as pessoas costumam demorar a procurar tratamento porque acham que são mais quietas ou os indícios sejam reflexos de uma timidez". Assim, é possível ficar até 25 anos com a doença, segundo dados epistemológicos, e só então conseguir uma melhora.
No entanto, é importante analisar bem os sintomas, evitando deste modo a incidência de erros. Para saber quando a animosidade está ultrapassando o medo é necessário avaliar o grau de prejuízo funcional que o indivíduo está tendo. "As pessoas têm todo um arsenal para evitar falar ao telefone. Pedem que outras façam as ligações, despendem tempo arquitetando maneiras de fugir da situação, ou até perdem alguma oportunidade com suas estratégias de evitação", explica Luciane.
Este é o caso do professor de alemão, S.D. "Eu tento fugir ao máximo de ligações. Invento mil desculpas para não fazê-las. O que já fez com que perdesse algumas oportunidades de emprego. Mas, quando ligo, depende do meu estado na hora, consigo abstrair o nervosismo. Quando não, gaguejo bastante, suo e o coração acelera".
Em situações específicas é possível contar com a ajuda de betabloqueadores (substâncias usadas no tratamento da hipertensão, que agem no sistema nervoso autônomo) para atenuar os sintomas físicos. Entretanto, o tratamento vai depender de cada caso. Podendo ser feito através de Terapia Cognitivo-Comportamental (individual ou em grupo) e/ou com psicofármacos (antidepressivos, ansiolíticos).
A Fobia Social tem tendência a cronicidade, ou seja, não possui cura. Mas é possível obter melhoras significativas e alívio do sofrimento. Apesar de parecer difícil para o paciente, as técnicas de exposição e relaxamento, aliadas a psicoeducação (onde se aprende o que é o transtorno, como ele se desencadeia etc) demonstram ser as mais eficazes na retomada de uma vida normal.
Enquanto isso não ocorre o telefone permanece tocando. Trimmm! Trimmm! Trimmm! E continuará assim, a não ser que uma atitude seja tomada. O primeiro alô é só o início da jornada. Neste mundo cada vez mais ligado à comunicação não há como escapar, até uma matéria pode te por em uma roubada. Afinal, a confirmação de uma entrevista é por telefone, marcada.

Leia abaixo depoimentos de pessoas com dificuldade de ser relacionar via telefone.


"Seja o que Deus quiser"

"Minha timidez se manifesta muito quando preciso ligar para alguém. Várias vezes eu anoto o que quero perguntar, mas, isso não adianta, é até pior porque o nervosismo é maior por eu estar claramente agindo como se aquilo fosse uma coisa muito difícil. Por isso, em certas vezes eu simplesmente pego o telefone, ligo, e seja o que Deus quiser".


S. D., tem 27 anos, mora em Florianópolis e trabalha como professor de Alemão

"Silêncio Constragedor"

"Sou péssimo em diálogos ao telefone. Ali, a única atividade possível é falar, falar, falar, falar... Enfim, sou bem reservado. Odeio o caráter 'imediatista' destas conversas em que os diálogos são um 'toma lá, dá cá', e exigem respostas instantâneas, parecendo um interrogatório. Não sou espontâneo, não tenho assunto e muitas vezes não sei o que falar. Sou um especialista no quesito 'silêncio constrangedor'". Também não suporto telefone celular. Não me agrada a idéia de ser 'monitorado'".

Antonio Jin, tem 33 anos, mora em São Paulo capital e trabalha como administrador.


"Medo de notícias Ruins"

"Não tive telefone na infância porque era muito caro. Na adolescência, quando meus pais compraram, as ligações tinham um alto custo, era inconveniente falar muito. O telefone era usado só para assuntos diretos e muito importantes. Assim, ele acabou ganhando uma conotação de 'notícias ruins'. Então nunca consegui ter uma boa relação com o aparelho".

Cláudio Guirunas, tem 26 anos, mora em Florianópolis e trabalha como programador (web).


* Matéria publicada no Jornal da Manhã - um dos periódicos da Famecos - em Junho de 2006

TEMPO

* (CRÔNICA)
INGRID GUERRA

Tempo para mim sempre teve uma conotação particular. Desde os meus 16 ou 17 anos corro atrás dele. É estranho falar isso, mas, com essa idade já me sentia uma velha. Esse sentimento não era vão. eu era, realmente, a mais velha da turma. Não obstante a diferença etária era aceitabilíssima, um ou dois anos no máximo. O problema é que para mim essa disparidade era absurda. Corria atrás do tempo sem nunca alcançá-lo.
Pensava... Estou perdendo tempo, eu preciso tomar decisões, as pessoas mais jovens já descobriram seu rumo. Meu Deus, o que eu vou fazer? O que eu vou ser? Que futuro eu vou ter?
Eu estou velha demais pra tantas coisas! Eu preciso de mais tempo... tempo, tempo, tempo. O tempo corre, os minutos passam, as horas voam, o ano acabou. Meu Deus, o que fiz do meu tempo? Meu tempo passou? Será que terei tempo para tudo? É tarde demais, preciso me organizar. O prazo acabou, quero que o tempo não passe.
Olho o relógio, ouço o tic-tac... não vou conseguir, o dia nasceu, a hora passou, o prazo encerrou. Eu quero mais tempo. Tempooooooo!
Preciso de tempo. Estou velha demais. Não tenho tempo a desperdiçar. Vinte e um, vinte dois, vinte três... Nãoooo! Pára! Eu preciso de tempo, preciso crescer, preciso aprender, preciso amadurecer, preciso me encontrar e encontrar o prazer de viver.
Eu preciso de tempo, tempo para ler, para refletir, para entender, para descomplicar, para amar, para me divertir, para sair, para curtir. Mas o tempo não pára, o tempo só passa. O tempo não me espera chegar. E eu preciso tanto alcançar o meu tempo. Deixar o passado, esquecer o porvir, e viver o presente que o tempo me reservou.


* Escrita em 2005

Olhos Atentos

* (CRÔNICA)

Por: INGRID GUERRA

O florescer dos jacarandás que ocupam a Praça da Alfândega revelam: em breve estarão circulando por ali milhares de pessoas. Muitas mais do que as passam diariamente. Olhos atentos...
É a folgada Feira do livro que vem se adonar de cada pequeno espaço existente entre as árvores, comenta alguém. Livros de todos os gêneros, para todos os gostos, ficam ali, expostos a olhos ávidos pelo momento da posse. Que por muitas vezes pode nem vir a acontecer, mas que se deixam degustar.
São eles que disputam um lugar em frente às bancas, ao lado de olhos curiosos. Olhos que procuram sem achar. Olhos que buscam um não sei o quê, escrito por não sei quem, editado não sei onde.
Os olhos de paixão também estão por lá. Mas estes se quer desviam o olhar. Para os livros, não há porque parar, quando o que desejam está ali, a um palmo do beijo que irão saborear. E este é o que todos irão invejar. Olhos de cobiça irão se aguçar. Os de preguiça não irão nem notar. E os pessimistas, com certeza irão proclamar: é só mais uma conquista, que logo irá acabar. Olhos negros, olhos verdes, olhos que não podem olhar. Todos olham, todos esperam encontrar.


* Produzida em Novembro de 2005

segunda-feira, junho 26, 2006

O garimpo nos templos do retrô

* (INTERNET)


Texto e Fotos: INGRID GUERRA

Mais do que uma questão de economia, garimpar nos brechós é uma forma de encontrar peças interessantes para transformar o básico em uma produção original. É por este motivo que novos “templos do retrô” têm surgido para suprir uma demanda em crescimento.

Quando surgiram, no final do século 19, os brechós não gozavam da mesma concepção que hoje possuem. Eram apenas lojas de artigos de segunda mão, destinados (muitas vezes) à pessoas que não teriam condições de adquirir roupas em estabelecimentos convencionais. Vem daí sua má fama de reduto de traças e velharias. Conceito que tem mudado.

Nem só de mercadorias usadas vivem os brechós modernos. Muitos deles possuem produtos sem uso, além de peças customizadas* com preços acessíveis. Roupas de marcas famosas, artigos que já saíram de catálogo e a diversidade de estilo fazem destes templos do retro, o refúgio de artistas e da ‘galera alternativa’. Mas não só deles. Afinal, como sugere a estudante de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Ana Luiza Vieira, não há porque não comprar em brechós se é ali que se encontram as grandes marcas com preços acessíveis.

- Já comprei muitos sapatos, muitas bolsas por preços módicos, por 10 reais, 20 reais, maravilhosos. Então é só garimpar. Realmente tem que garimpar muito. A maioria desses brechós tem milhões de tralhas, milhões traças e pouca roupa boa. Mas, acho que é só ter um pouquinho de força de vontade que vale à pena – revela.

Outro bom motivo para aderir ao vintage* é a exclusividade. Através da customização, roupas que outrora “fizeram sucesso” podem ser recicladas e voltar a atrair olhares. São estas peças únicas que agradam a professora aposentada Tania Maria Klein (foto acima).

- Eu gosto de comprar em brechó porque é uma oportunidade que tenho de encontrar alguma coisa exclusiva. Diferente, diferenciada do que eu encontraria nas lojas.

Diferencial é o que procura, também, a proprietária do brechó Maria Flor. Daniela Pritsch, que inaugurou – há duas semanas – sua loja no bairro Rio Branco em Porto Alegre. Esta estudante de psicologia da Universidade Luterana do Brasil – que trabalha há 20 anos com artesanato – sempre que recebe (compra) uma nova peça, pensa em modificá-la.

- Normalmente eu olho com olhos para transformar, cortar, botar algum enfeitinho, alguma coisa. Eu até queria abrir com mais customização. Não consegui, porque tenho outras coisas paralelas, que não deu. Mas, agora, nas férias eu vou me dedicar bastante a customizar. Ter coisas bem diferentes.

Daniela pretende, ainda, disponibilizar espaço – nos fundos de sua loja – para um acervo de peça para figurinos de teatro. Mas tudo no seu devido tempo.

** Glosssário

CUSTOMIZAR – dar um toque pessoal a uma roupa ou objeto. Cortar camisetas é customizar.

RETRÔ – termo usado para roupas antigas que voltam à moda.

VINTAGE – termo em inglês para designar roupas de segunda mão, datadas, a moda que sai dos brechós.

O Endereço do Brechó Maria Flor é:

Rua: Miguel Tostes, 796
Bairro: Rio Branco.
Fone: 96655367

* Matéria produzida em outubro de 2005

Feira do Livro: uma gigante um tanto inábil

* (INTERNET)


INGRID GUERRA


Nem só com obras literárias se constrói uma feira como a do Livro de Porto Alegre – a qual começou modesta, há mais de meio século, e ganha a cada ano mais espaços. Dos jacarandás na Praça da Alfândega à orla do Guaíba, no Cais do Porto, centenas de atividades são oferecidas ao público. Muitas paralelas entre si.

A programação – sempre em desenvolvimento – que inclui desde oficinas, mesas-redondas e sessões de autógrafos até a participação de grupos artísticos, além das centenas de bancas de livros, já não permite aos freqüentadores a participação em todo o evento. São 19 dias – de 28 de outubro a 15 de novembro – em atividades que se difundem por uma área total de 20 mil metros quadrados.

– Nem que tu queiras, tu não consegues acompanhar tudo. Tu tens que te programar e, mesmo assim, acabas perdendo algumas atividades. Pois, tem sempre alguma coisa acontecendo no mesmo horário – lamenta o jornalista e escritor Walter Galvani, que foi patrono da Feira, em 2003, e autor do livro A Feira da Gente: feira do livro de Porto Alegre, 50 anos.

O reflexo disto é que grandes acontecimentos acabam carecendo de participação. Afinal, nem sempre a cobertura da feira consegue ser completa, devido ao elevado número de atividades, relata Galvani:

– De repente tem uma coisa boa aqui e não vai ninguém, porque não foi noticiado. A feira tem tudo o que tu possas imaginar, é só pegar a lista – o que ele faz literalmente, analisando, de maneira rápida, a programação.

– Estamos diante de um pouco de excesso em todas estas coisas. Então, tem que ter uma espécie de seleção natural nos eventos da Feira do Livro – complementa.

Galvani revela, ainda, que esta situação vem se agravando a cada ano. Desde a década de 1990 a Feira do Livro tem se ampliado tanto – e a tendência é continuar ocupando espaços disponíveis – que hoje ela esta “padecendo de gigantismo, o que não é bom para a Feira, nem para Porto alegre ou para as pessoas que querem fazer parte disso”.


* Matéria escrita em novembro de 2005

A idade da razão (na “sala’da” comunicação)

* (CRÔNICA)
INGRID GUERRA


Na batalha diária pelo canudo da graduação, não há tempo para compreensão. É cada um por si e, de preferência, todos os simpatizantes que puder angariar, por mim, lógico! Não há espaço para traumas de infância, nem falta de interesse em determinado assunto. Se o mercado de trabalho vai te devorar no futuro, aprenda: na faculdade você já faz o test-drive de petisco.
Os ingredientes deste acepipe não são muito variados. Sustentado por uma massa de “sapitchos” – engolidos no decorrer do curso – esta iguaria é salpicada por egos inflados e desprezo arraigado no âmago dos supra-sumo-do-nasci-sabendo (ou sua variação colegas-a-razão-é-minha-e-fim-de-papo).
Questionamentos não são aceitos, nem palpites podem ser empregados à receita. O trabalho é deles e ou se faz o que o cidadão propõe, ou nada feito (assim eu não brinco mais, bobão!). Afinal, corre-se o risco do quitute desandar. Não obstante, a refeição é longa e farta.
Se o estômago suportar, você ainda terá o privilégio de compartilhar a mesa com aquele maravilhoso rocambole-eu-sou-gostosa-e-esperta-abaixo-de-mim-todos, que com prazer apresentará seus predicados ao menor contato (e você achou que se livraria dela saindo da “carta” francesa, né?! Acalme-se, só um semestre para ela virar foca-enlatada).
Tão saboroso quanto cuspe de vaca, esse rocambole é como aquele famoso peixe, dependendo do corte é mortal. Muito cuidado nesta hora!
Passado o merengue (ou seria, perrengue?), chegamos à rapadura – que, como todos sabem: é doce, mas não é mole, não -. Não obstante, após tantos avanços da ciência, ela também foi adulterada para nosso festim. Com uma pequena acidez propícia a companheiros-amigos-que-nem-sempre-se-acertam ela tende, agora, a deixar o paladar um pouco amargo, mas, só até o momento de deslizar pela língua. Após a ingestão, um surpreendente e delicioso sabor-de-quero-mais nos toma por completo. A partir de então, e ao final da entrada, estaremos prontos para virar o prato principal.

domingo, junho 25, 2006

Terra das culturas diversificadas comemora 115 anos

* (INTERNET)


Texto e Foto: INGRID GUERRA



Hoje Clarissa não irá à agência de viagens onde trabalha. Sílvio também poderá dormir até mais tarde, pois, a transportadora na qual presta serviços permanecerá com as portas fechadas. E eles não serão os únicos a ter um dia de folga. Grande parte da população de uma cidade de 75.472 habitantes, no Noroeste do Estado, não irá trabalhar nesta quarta-feira (19). O motivo da pausa é a celebração dos 115 anos de colonização de Ijuí (foto ao lado).

O Aniversário do município – conhecido como Terra das Culturas Diversificadas – é, oficialmente, hoje. Mas, há quem o venha comemorando há mais tempo, na tradicional Festa das Culturas Diversificadas (FENADI) e na Exposição-feira Industrial e Comercial de Ijuí (
EXPOIJUÍ). Os eventos estão acontecendo – desde o dia 11 e seguem até o dia 23 deste mês – no Parque de Exposição Vanderley Agostinho Burmann.

A cultura, a gastronomia e os costumes de 11 etnias que se estabeleceram e trabalharam para o desenvolvimento da cidade – mais o tradicionalismo gaúcho – são retratados pelos descendentes, em suas casas típicas estabelecidas no Parque e no Palco das Etnias.

Afros, alemães, árabes, austríacos, espanhóis, holandeses, italianos, letos, poloneses, portugueses, suecos e gaúchos mostram que é possível conviver em harmônia, mesmo entre povos tão diferentes.
Mais de 70 mil pessoas visitaram a feira até a noite de ontem. Estima-se que até o final do evento terão passado por lá entre 130 e 150 mil pessoas, segundo informou o primeiro tenente da brigada militar de Ijuí, Gilmar Luiz Rader, que no sábado (15) à tarde coordenava o efetivo (que dispõe de 15 policiais por turno) no local.


Dois dias a mais para comemorar

A 15ª Expoijuí e a 19ª Fenadi tiveram este ano (2005) sua duração ampliada em dois dias. Apesar da pouca alteração, há quem reprove a medida. O estudante de publicidade e propaganda, da Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul
(UNIJUÍ), Manuel de Jesus Pérez, acredita que a ampliação do tempo não levará mais pessoas à feira. Ao contrário, elas poderão protelar sua visita ao parque.

– E isso irá deixar o parque meio vazio – acrescenta Pérez.

O prefeito de Ijuí, Valdir Heck, no entanto, justifica que a ampliação do período da feira tem a ver com os feriados.

– Dia 12 é feriado nacional e 19 é feriado municipal e cai na quarta-feira, então resolvemos estender até o final de semana.

Heck confessa, ainda, ter boas expectativas em relação ao público: “pretendemos repetir ou superar os números das edições anteriores”. Já em relação aos negócios, “se alcançarmos os mesmos números do ano passado, estaremos felizes”, declara ele.

* Matéria produzida em outubro de 2005

Mídia em debate: as deficiências da cobertura esportiva

* (IMPRESSO)

Ingrid Guerra

Nem gol, nem pênalti, ponto ou manipulação de resultados de uma partida, a discussão agora é a respeito da cobertura esportiva feita pela mídia – a falta de preparo dos repórteres e a priorização do futebol – ao menos nos bancos escolares do curso de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Há duas semanas os estudantes que cursam a cadeira de Jornalismo Especializado, ministrada pelas professoras Beatriz Dornelles e Ivone Cassol, vêm trabalhando com o tema.
O assunto não é recente. As partes envolvidas – do jogador ao torcedor, passando pelo repórter – há muito revelam sua insatisfação com as matérias sobre esporte e com o contexto no qual elas estão inseridas. O Mestre em Ciências do Movimento Humano e professor de Educação Física da PUCRS, Nelson Todt – que participou do debate no dia 10 de outubro –, aponta: “O momento social no qual vivemos – o contexto em que se insere uma imprensa que idiotiza – faz com que o jornalismo e todas as áreas de formação sejam deficitárias”.
O problema é conseguir sanar as deficiências e produzir reportagens interessantes e com relevância, não apenas simples relatos de partidas de futebol. “Que, por sinal, parecem ser o único foco de interesse da imprensa brasileira”, como protesta Todt:
– No Brasil não tem esporte. Tem futebol. O resto está à margem. E aqui (no Estado), nem futebol. Só Grêmio e Inter – argumenta.
Em contrapartida, o jornalista Mário Marcos de Souza, editor de Esportes do jornal
Zero Hora – que esteve no dia 3 de outubro com os mesmos alunos – disse não haver uma disposição maior para se cobrir futebol. A questão é que “o futebol permite o acesso de qualquer pessoa. Talvez por isso ele tenha conquistado tanto espaço”, acredita Souza, que justifica;
– Você não precisa de nada para jogar futebol. Basta amassar um papel, ou algo que role, e jogar descalço mesmo. Ao contrário de outras modalidades esportivas que necessitam de suporte.

O troféu ou o abandono

Indiferente às condições que o país dá aos seus esportistas, a mídia – e parte do público – exigem deles a vitória.
– Só há espaço para o melhor. Nada menos que o topo, o pódio, é aceitável. Caso contrário, o atleta é abandonado ao mais absoluto ostracismo, quando não observa seu trabalho sendo execrado na mídia – contesta Todt.
“Se vocês querem conhecer um povo, examinem o seu comportamento na vitória e na derrota”, escrevera Nelson Rodrigues em sua crônica intitulada As sombras dos crioulões em flor.
Para o educador, os brasileiros, e principalmente a imprensa esportiva nacional, têm muito a aprender. “Não se pode cobrar o mesmo desempenho apresentado pelos atletas de elite quando não há patrocínio”.
– Dou meia condição para o esporte no Brasil e total nos Estados Unidos e quero exigir os mesmos resultados? – questiona Todt, indignado.
A situação da mídia esportiva é complicada. Não apenas pela falta de preparo dos repórteres que precisam transmitir informações de maneira geral, mas, também, porque o tempo consome, hoje, a informação muito mais rápido do que no passado. Os meios impressos, que sofrem ainda mais com isso, precisam dispor de pautas criativas para não transmitir o que o público já soube pelos rádios, tevê e Internet.
Buscar, nos bastidores do esporte, informações que parecem não caberem à cobertura esportiva pode ser a solução em alguns casos. Porém, isso também não traz garantia de satisfação dos leitores. “A Folha de São Paulo se firmou no jornalismo esportivo quando passou a se preocupar mais com a cobertura política do esporte”, como cita o jornalista Paulo Vinicius Coelho em seu livro Jornalismo Esportivo. “Mas continua sendo tratado como um jornal que despreza a paixão, vive muito mais da razão”. Questão de escolha editorial.
Escolhas, aliás, estão sempre sendo tomadas no jornalismo, mesmo nos bancos escolares. Para Todt, debates como esses têm a intenção de provocar para o questionamento do papel ao qual futuros jornalistas irão exercer.
– Quem sabe assim se consiga eliminar a banalização de pauta, o denuncismo irresponsável e até a criação artificial de personagens – declara ele.


* Matéria produzida em outubro de 2005