segunda-feira, junho 26, 2006

O garimpo nos templos do retrô

* (INTERNET)


Texto e Fotos: INGRID GUERRA

Mais do que uma questão de economia, garimpar nos brechós é uma forma de encontrar peças interessantes para transformar o básico em uma produção original. É por este motivo que novos “templos do retrô” têm surgido para suprir uma demanda em crescimento.

Quando surgiram, no final do século 19, os brechós não gozavam da mesma concepção que hoje possuem. Eram apenas lojas de artigos de segunda mão, destinados (muitas vezes) à pessoas que não teriam condições de adquirir roupas em estabelecimentos convencionais. Vem daí sua má fama de reduto de traças e velharias. Conceito que tem mudado.

Nem só de mercadorias usadas vivem os brechós modernos. Muitos deles possuem produtos sem uso, além de peças customizadas* com preços acessíveis. Roupas de marcas famosas, artigos que já saíram de catálogo e a diversidade de estilo fazem destes templos do retro, o refúgio de artistas e da ‘galera alternativa’. Mas não só deles. Afinal, como sugere a estudante de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Ana Luiza Vieira, não há porque não comprar em brechós se é ali que se encontram as grandes marcas com preços acessíveis.

- Já comprei muitos sapatos, muitas bolsas por preços módicos, por 10 reais, 20 reais, maravilhosos. Então é só garimpar. Realmente tem que garimpar muito. A maioria desses brechós tem milhões de tralhas, milhões traças e pouca roupa boa. Mas, acho que é só ter um pouquinho de força de vontade que vale à pena – revela.

Outro bom motivo para aderir ao vintage* é a exclusividade. Através da customização, roupas que outrora “fizeram sucesso” podem ser recicladas e voltar a atrair olhares. São estas peças únicas que agradam a professora aposentada Tania Maria Klein (foto acima).

- Eu gosto de comprar em brechó porque é uma oportunidade que tenho de encontrar alguma coisa exclusiva. Diferente, diferenciada do que eu encontraria nas lojas.

Diferencial é o que procura, também, a proprietária do brechó Maria Flor. Daniela Pritsch, que inaugurou – há duas semanas – sua loja no bairro Rio Branco em Porto Alegre. Esta estudante de psicologia da Universidade Luterana do Brasil – que trabalha há 20 anos com artesanato – sempre que recebe (compra) uma nova peça, pensa em modificá-la.

- Normalmente eu olho com olhos para transformar, cortar, botar algum enfeitinho, alguma coisa. Eu até queria abrir com mais customização. Não consegui, porque tenho outras coisas paralelas, que não deu. Mas, agora, nas férias eu vou me dedicar bastante a customizar. Ter coisas bem diferentes.

Daniela pretende, ainda, disponibilizar espaço – nos fundos de sua loja – para um acervo de peça para figurinos de teatro. Mas tudo no seu devido tempo.

** Glosssário

CUSTOMIZAR – dar um toque pessoal a uma roupa ou objeto. Cortar camisetas é customizar.

RETRÔ – termo usado para roupas antigas que voltam à moda.

VINTAGE – termo em inglês para designar roupas de segunda mão, datadas, a moda que sai dos brechós.

O Endereço do Brechó Maria Flor é:

Rua: Miguel Tostes, 796
Bairro: Rio Branco.
Fone: 96655367

* Matéria produzida em outubro de 2005

Feira do Livro: uma gigante um tanto inábil

* (INTERNET)


INGRID GUERRA


Nem só com obras literárias se constrói uma feira como a do Livro de Porto Alegre – a qual começou modesta, há mais de meio século, e ganha a cada ano mais espaços. Dos jacarandás na Praça da Alfândega à orla do Guaíba, no Cais do Porto, centenas de atividades são oferecidas ao público. Muitas paralelas entre si.

A programação – sempre em desenvolvimento – que inclui desde oficinas, mesas-redondas e sessões de autógrafos até a participação de grupos artísticos, além das centenas de bancas de livros, já não permite aos freqüentadores a participação em todo o evento. São 19 dias – de 28 de outubro a 15 de novembro – em atividades que se difundem por uma área total de 20 mil metros quadrados.

– Nem que tu queiras, tu não consegues acompanhar tudo. Tu tens que te programar e, mesmo assim, acabas perdendo algumas atividades. Pois, tem sempre alguma coisa acontecendo no mesmo horário – lamenta o jornalista e escritor Walter Galvani, que foi patrono da Feira, em 2003, e autor do livro A Feira da Gente: feira do livro de Porto Alegre, 50 anos.

O reflexo disto é que grandes acontecimentos acabam carecendo de participação. Afinal, nem sempre a cobertura da feira consegue ser completa, devido ao elevado número de atividades, relata Galvani:

– De repente tem uma coisa boa aqui e não vai ninguém, porque não foi noticiado. A feira tem tudo o que tu possas imaginar, é só pegar a lista – o que ele faz literalmente, analisando, de maneira rápida, a programação.

– Estamos diante de um pouco de excesso em todas estas coisas. Então, tem que ter uma espécie de seleção natural nos eventos da Feira do Livro – complementa.

Galvani revela, ainda, que esta situação vem se agravando a cada ano. Desde a década de 1990 a Feira do Livro tem se ampliado tanto – e a tendência é continuar ocupando espaços disponíveis – que hoje ela esta “padecendo de gigantismo, o que não é bom para a Feira, nem para Porto alegre ou para as pessoas que querem fazer parte disso”.


* Matéria escrita em novembro de 2005

A idade da razão (na “sala’da” comunicação)

* (CRÔNICA)
INGRID GUERRA


Na batalha diária pelo canudo da graduação, não há tempo para compreensão. É cada um por si e, de preferência, todos os simpatizantes que puder angariar, por mim, lógico! Não há espaço para traumas de infância, nem falta de interesse em determinado assunto. Se o mercado de trabalho vai te devorar no futuro, aprenda: na faculdade você já faz o test-drive de petisco.
Os ingredientes deste acepipe não são muito variados. Sustentado por uma massa de “sapitchos” – engolidos no decorrer do curso – esta iguaria é salpicada por egos inflados e desprezo arraigado no âmago dos supra-sumo-do-nasci-sabendo (ou sua variação colegas-a-razão-é-minha-e-fim-de-papo).
Questionamentos não são aceitos, nem palpites podem ser empregados à receita. O trabalho é deles e ou se faz o que o cidadão propõe, ou nada feito (assim eu não brinco mais, bobão!). Afinal, corre-se o risco do quitute desandar. Não obstante, a refeição é longa e farta.
Se o estômago suportar, você ainda terá o privilégio de compartilhar a mesa com aquele maravilhoso rocambole-eu-sou-gostosa-e-esperta-abaixo-de-mim-todos, que com prazer apresentará seus predicados ao menor contato (e você achou que se livraria dela saindo da “carta” francesa, né?! Acalme-se, só um semestre para ela virar foca-enlatada).
Tão saboroso quanto cuspe de vaca, esse rocambole é como aquele famoso peixe, dependendo do corte é mortal. Muito cuidado nesta hora!
Passado o merengue (ou seria, perrengue?), chegamos à rapadura – que, como todos sabem: é doce, mas não é mole, não -. Não obstante, após tantos avanços da ciência, ela também foi adulterada para nosso festim. Com uma pequena acidez propícia a companheiros-amigos-que-nem-sempre-se-acertam ela tende, agora, a deixar o paladar um pouco amargo, mas, só até o momento de deslizar pela língua. Após a ingestão, um surpreendente e delicioso sabor-de-quero-mais nos toma por completo. A partir de então, e ao final da entrada, estaremos prontos para virar o prato principal.

domingo, junho 25, 2006

Terra das culturas diversificadas comemora 115 anos

* (INTERNET)


Texto e Foto: INGRID GUERRA



Hoje Clarissa não irá à agência de viagens onde trabalha. Sílvio também poderá dormir até mais tarde, pois, a transportadora na qual presta serviços permanecerá com as portas fechadas. E eles não serão os únicos a ter um dia de folga. Grande parte da população de uma cidade de 75.472 habitantes, no Noroeste do Estado, não irá trabalhar nesta quarta-feira (19). O motivo da pausa é a celebração dos 115 anos de colonização de Ijuí (foto ao lado).

O Aniversário do município – conhecido como Terra das Culturas Diversificadas – é, oficialmente, hoje. Mas, há quem o venha comemorando há mais tempo, na tradicional Festa das Culturas Diversificadas (FENADI) e na Exposição-feira Industrial e Comercial de Ijuí (
EXPOIJUÍ). Os eventos estão acontecendo – desde o dia 11 e seguem até o dia 23 deste mês – no Parque de Exposição Vanderley Agostinho Burmann.

A cultura, a gastronomia e os costumes de 11 etnias que se estabeleceram e trabalharam para o desenvolvimento da cidade – mais o tradicionalismo gaúcho – são retratados pelos descendentes, em suas casas típicas estabelecidas no Parque e no Palco das Etnias.

Afros, alemães, árabes, austríacos, espanhóis, holandeses, italianos, letos, poloneses, portugueses, suecos e gaúchos mostram que é possível conviver em harmônia, mesmo entre povos tão diferentes.
Mais de 70 mil pessoas visitaram a feira até a noite de ontem. Estima-se que até o final do evento terão passado por lá entre 130 e 150 mil pessoas, segundo informou o primeiro tenente da brigada militar de Ijuí, Gilmar Luiz Rader, que no sábado (15) à tarde coordenava o efetivo (que dispõe de 15 policiais por turno) no local.


Dois dias a mais para comemorar

A 15ª Expoijuí e a 19ª Fenadi tiveram este ano (2005) sua duração ampliada em dois dias. Apesar da pouca alteração, há quem reprove a medida. O estudante de publicidade e propaganda, da Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul
(UNIJUÍ), Manuel de Jesus Pérez, acredita que a ampliação do tempo não levará mais pessoas à feira. Ao contrário, elas poderão protelar sua visita ao parque.

– E isso irá deixar o parque meio vazio – acrescenta Pérez.

O prefeito de Ijuí, Valdir Heck, no entanto, justifica que a ampliação do período da feira tem a ver com os feriados.

– Dia 12 é feriado nacional e 19 é feriado municipal e cai na quarta-feira, então resolvemos estender até o final de semana.

Heck confessa, ainda, ter boas expectativas em relação ao público: “pretendemos repetir ou superar os números das edições anteriores”. Já em relação aos negócios, “se alcançarmos os mesmos números do ano passado, estaremos felizes”, declara ele.

* Matéria produzida em outubro de 2005

Mídia em debate: as deficiências da cobertura esportiva

* (IMPRESSO)

Ingrid Guerra

Nem gol, nem pênalti, ponto ou manipulação de resultados de uma partida, a discussão agora é a respeito da cobertura esportiva feita pela mídia – a falta de preparo dos repórteres e a priorização do futebol – ao menos nos bancos escolares do curso de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Há duas semanas os estudantes que cursam a cadeira de Jornalismo Especializado, ministrada pelas professoras Beatriz Dornelles e Ivone Cassol, vêm trabalhando com o tema.
O assunto não é recente. As partes envolvidas – do jogador ao torcedor, passando pelo repórter – há muito revelam sua insatisfação com as matérias sobre esporte e com o contexto no qual elas estão inseridas. O Mestre em Ciências do Movimento Humano e professor de Educação Física da PUCRS, Nelson Todt – que participou do debate no dia 10 de outubro –, aponta: “O momento social no qual vivemos – o contexto em que se insere uma imprensa que idiotiza – faz com que o jornalismo e todas as áreas de formação sejam deficitárias”.
O problema é conseguir sanar as deficiências e produzir reportagens interessantes e com relevância, não apenas simples relatos de partidas de futebol. “Que, por sinal, parecem ser o único foco de interesse da imprensa brasileira”, como protesta Todt:
– No Brasil não tem esporte. Tem futebol. O resto está à margem. E aqui (no Estado), nem futebol. Só Grêmio e Inter – argumenta.
Em contrapartida, o jornalista Mário Marcos de Souza, editor de Esportes do jornal
Zero Hora – que esteve no dia 3 de outubro com os mesmos alunos – disse não haver uma disposição maior para se cobrir futebol. A questão é que “o futebol permite o acesso de qualquer pessoa. Talvez por isso ele tenha conquistado tanto espaço”, acredita Souza, que justifica;
– Você não precisa de nada para jogar futebol. Basta amassar um papel, ou algo que role, e jogar descalço mesmo. Ao contrário de outras modalidades esportivas que necessitam de suporte.

O troféu ou o abandono

Indiferente às condições que o país dá aos seus esportistas, a mídia – e parte do público – exigem deles a vitória.
– Só há espaço para o melhor. Nada menos que o topo, o pódio, é aceitável. Caso contrário, o atleta é abandonado ao mais absoluto ostracismo, quando não observa seu trabalho sendo execrado na mídia – contesta Todt.
“Se vocês querem conhecer um povo, examinem o seu comportamento na vitória e na derrota”, escrevera Nelson Rodrigues em sua crônica intitulada As sombras dos crioulões em flor.
Para o educador, os brasileiros, e principalmente a imprensa esportiva nacional, têm muito a aprender. “Não se pode cobrar o mesmo desempenho apresentado pelos atletas de elite quando não há patrocínio”.
– Dou meia condição para o esporte no Brasil e total nos Estados Unidos e quero exigir os mesmos resultados? – questiona Todt, indignado.
A situação da mídia esportiva é complicada. Não apenas pela falta de preparo dos repórteres que precisam transmitir informações de maneira geral, mas, também, porque o tempo consome, hoje, a informação muito mais rápido do que no passado. Os meios impressos, que sofrem ainda mais com isso, precisam dispor de pautas criativas para não transmitir o que o público já soube pelos rádios, tevê e Internet.
Buscar, nos bastidores do esporte, informações que parecem não caberem à cobertura esportiva pode ser a solução em alguns casos. Porém, isso também não traz garantia de satisfação dos leitores. “A Folha de São Paulo se firmou no jornalismo esportivo quando passou a se preocupar mais com a cobertura política do esporte”, como cita o jornalista Paulo Vinicius Coelho em seu livro Jornalismo Esportivo. “Mas continua sendo tratado como um jornal que despreza a paixão, vive muito mais da razão”. Questão de escolha editorial.
Escolhas, aliás, estão sempre sendo tomadas no jornalismo, mesmo nos bancos escolares. Para Todt, debates como esses têm a intenção de provocar para o questionamento do papel ao qual futuros jornalistas irão exercer.
– Quem sabe assim se consiga eliminar a banalização de pauta, o denuncismo irresponsável e até a criação artificial de personagens – declara ele.


* Matéria produzida em outubro de 2005