domingo, junho 25, 2006

Mídia em debate: as deficiências da cobertura esportiva

* (IMPRESSO)

Ingrid Guerra

Nem gol, nem pênalti, ponto ou manipulação de resultados de uma partida, a discussão agora é a respeito da cobertura esportiva feita pela mídia – a falta de preparo dos repórteres e a priorização do futebol – ao menos nos bancos escolares do curso de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Há duas semanas os estudantes que cursam a cadeira de Jornalismo Especializado, ministrada pelas professoras Beatriz Dornelles e Ivone Cassol, vêm trabalhando com o tema.
O assunto não é recente. As partes envolvidas – do jogador ao torcedor, passando pelo repórter – há muito revelam sua insatisfação com as matérias sobre esporte e com o contexto no qual elas estão inseridas. O Mestre em Ciências do Movimento Humano e professor de Educação Física da PUCRS, Nelson Todt – que participou do debate no dia 10 de outubro –, aponta: “O momento social no qual vivemos – o contexto em que se insere uma imprensa que idiotiza – faz com que o jornalismo e todas as áreas de formação sejam deficitárias”.
O problema é conseguir sanar as deficiências e produzir reportagens interessantes e com relevância, não apenas simples relatos de partidas de futebol. “Que, por sinal, parecem ser o único foco de interesse da imprensa brasileira”, como protesta Todt:
– No Brasil não tem esporte. Tem futebol. O resto está à margem. E aqui (no Estado), nem futebol. Só Grêmio e Inter – argumenta.
Em contrapartida, o jornalista Mário Marcos de Souza, editor de Esportes do jornal
Zero Hora – que esteve no dia 3 de outubro com os mesmos alunos – disse não haver uma disposição maior para se cobrir futebol. A questão é que “o futebol permite o acesso de qualquer pessoa. Talvez por isso ele tenha conquistado tanto espaço”, acredita Souza, que justifica;
– Você não precisa de nada para jogar futebol. Basta amassar um papel, ou algo que role, e jogar descalço mesmo. Ao contrário de outras modalidades esportivas que necessitam de suporte.

O troféu ou o abandono

Indiferente às condições que o país dá aos seus esportistas, a mídia – e parte do público – exigem deles a vitória.
– Só há espaço para o melhor. Nada menos que o topo, o pódio, é aceitável. Caso contrário, o atleta é abandonado ao mais absoluto ostracismo, quando não observa seu trabalho sendo execrado na mídia – contesta Todt.
“Se vocês querem conhecer um povo, examinem o seu comportamento na vitória e na derrota”, escrevera Nelson Rodrigues em sua crônica intitulada As sombras dos crioulões em flor.
Para o educador, os brasileiros, e principalmente a imprensa esportiva nacional, têm muito a aprender. “Não se pode cobrar o mesmo desempenho apresentado pelos atletas de elite quando não há patrocínio”.
– Dou meia condição para o esporte no Brasil e total nos Estados Unidos e quero exigir os mesmos resultados? – questiona Todt, indignado.
A situação da mídia esportiva é complicada. Não apenas pela falta de preparo dos repórteres que precisam transmitir informações de maneira geral, mas, também, porque o tempo consome, hoje, a informação muito mais rápido do que no passado. Os meios impressos, que sofrem ainda mais com isso, precisam dispor de pautas criativas para não transmitir o que o público já soube pelos rádios, tevê e Internet.
Buscar, nos bastidores do esporte, informações que parecem não caberem à cobertura esportiva pode ser a solução em alguns casos. Porém, isso também não traz garantia de satisfação dos leitores. “A Folha de São Paulo se firmou no jornalismo esportivo quando passou a se preocupar mais com a cobertura política do esporte”, como cita o jornalista Paulo Vinicius Coelho em seu livro Jornalismo Esportivo. “Mas continua sendo tratado como um jornal que despreza a paixão, vive muito mais da razão”. Questão de escolha editorial.
Escolhas, aliás, estão sempre sendo tomadas no jornalismo, mesmo nos bancos escolares. Para Todt, debates como esses têm a intenção de provocar para o questionamento do papel ao qual futuros jornalistas irão exercer.
– Quem sabe assim se consiga eliminar a banalização de pauta, o denuncismo irresponsável e até a criação artificial de personagens – declara ele.


* Matéria produzida em outubro de 2005

Um comentário:

Anônimo disse...

Aprendi muito